Maio 12, 2022

Matthieu Ricard: “O egoísmo não será a resposta para os grandes desafios dos nossos tempos”

“A humanidade que nos une em tempos de incerteza” foi o mote da conferência que o cientista e monge budista Matthieu Ricard conduziu no Auditório da Faculdade de Medicina Dentária de Lisboa, no passado dia 5 de maio. Parte da receita de bilheteira deste evento reverteu a favor do CASA.

A noção de todo, de interligação entre todos os seres e de responsabilidade universal partilhada por todos e por cada um de nós foram alguns dos conceitos abordados por Matthieu Ricard, cientista e monge budista, que mais uma vez veio a Portugal defender o altruísmo, a bondade e o cuidado com o outro.

Cuidar do outro, que é cuidar de nós próprios. Tal como Matthieu Ricard sublinhou mais uma vez, se nas decisões de todos nós, incluindo líderes mundiais, pesasse o cuidado com o outro e esta ideia de interligação entre todos, muitos dissabores e tragédias seriam evitados.

Nesta linha de pensamento, Matthieu Ricard, doutorado em genética molecular, não deixou de lado a questão ambiental. Na corrida contra o tempo para salvarmos o planeta, só o verdadeiro altruísmo pode salvar a humanidade de se auto-destruir, defendeu.

O monge deu como exemplo a pandemia, sublinhando que neste período os governantes de todo o mundo adotaram medidas extremas e os cidadãos acataram-nas. Ou seja, em situação de emergência, sim, é possível adotar medidas drásticas para uma situação limite que coloca em causa a sobrevivência da humanidade: “Se houvesse a mesma noção de emergência perante a crise ambiental e metade da determinação por parte dos governos, provavelmente chegaríamos a algum lado.”

“O egoísmo não será a resposta para os grandes desafios dos nossos tempos”, referiu Matthieu Ricard, nomeando “a crise ambiental” como uma prioridade absoluta. “Os 7 biliões de seres humanos no mundo estão a definir a situação em que as gerações futuras vão viver. É a primeira vez que isto acontece na humanidade”, notou o monge, falando nas noções de “responsabilidade global”, de “humanidade comum”, que são “partilhadas com as futuras gerações.”

“Precisamos agir, antes que seja tarde demais”, alertou Matthieu Ricard. “Estamos todos no mesmo barco.”

Ainda sobre a noção de interligação entre todos os seres, o cientista e monge explica de forma simples como tudo o que fazemos, usamos e consumimos está dependente de outros. É necessário explicar às nossas crianças isso mesmo: a camisola que usam teve envolvidas, desde o cultivo da matéria-prima à chegada à sua gaveta, dezenas de pessoas, de vidas humanas. Em tempo algum, os humanos podem supor que seja possível viver sem esta interligação.

Ora, num tempo de incertezas e receios, urge ouvir a mensagem sábia de Matthieu Ricard: só com altruísmo, colaboração e união é possível salvar a humanidade.

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